sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Accipe quod tuum alterique da suum


Ouço vozes ruidosas, perturbadoras, mas nelas não vejo sentido, por mais que soprem em meus ouvidos como se fossem anjos da morte sugando o ar de meus pulmões.
Mas em que eu estava pensando mesmo? Devo estar sonhando, mas sinto minha presença em flashes em algo como uma festa; pessoas cheirando a cigarro sorrindo e de repente um grito, uma correria e uma súbita dor de cabeça.
A realidade se parece com um manto de seda recobrindo todo meu corpo, meus olhos parecem não piscar. E esse luar, com essa forte luz em minha retina me pergunta coisas sobre meu passado pouco admirável sem me deixar responder.
Meus braços só podem estar atados não há como move-los por mais que eu faça força.
As vozes em minha mente... “espere” hã ??
“Puxa ele!! Aqui!! Coloque aqui!! Empurre ess...”
Agora um ronco como de motor reproduz uma gargalhada infernal que parece levar consigo a luz da Lua que subitamente parou de me questionar.
Devo estar morrendo.
Sinto um forte gosto de terra e sangue, ergo os olhos vejo o céu claro, sem nuvens; viro a cabeça sentido uma forte e anormal dor na nuca; noto que ela está sobre o asfalto enquanto meu corpo repousa sobre a perfurante areia do acostamento.
Ainda não sei como vim parar aqui, mas devo me levantar, antes que a luz suma de vez...

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Sem Sombra, Sem Dúvida

Se todo poeta é fingidor - como dizia o saudoso Fernando Pessoa – e se a vida é uma poesia que se escreve sem parar; então para ser poeta na vida preciso, às vezes, fingir no que sinto.

Não pra enganar a ninguém nem a mim mesmo, mas para que todo o fingimento se transforme em realidade.

Isso faz sentido quando se consegue observar que dentro de nós há um universo de sentimentos e ideias que se espancam o tempo todo querendo apenas aparecer para serem vistos e questionados, já que é dessa forma que conseguem sobreviver diante do caos.

È fingindo na vida que rapto a felicidade, onde quer que ela esteja, e a dou um gole de minha cachaça mais embriagante para que unidos possamos fazer as mais loucas loucuras sem nos importarmos com o que é certo ou errado. Afinal de contas, certeza não é sempre relativa?

Sendo assim, nunca peça para nos vestirmos de suas construções sociais. Ela e eu queremos estar sempre nus.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Quando rejeitar é sinônimo de aceitar


O sopro da escuridão de uma noite remoída em insônia me empurra uma idéia escondida nas entranhas de minha alma:
“homens são, em suma, códigos de barra como tudo o que existe e nada mais”
Não são seres abençoados ou poupados do castigo eterno de um Deus poderoso e temperamental que muda de personalidade de um testamento para o outro.
Volvo minha fronte, agora, para o sopro do universo e grito em seu ouvido.
Sei que não serei ouvido - assim como os ecossistemas naturais que gritam ainda mais forte por socorro e sabem que também não serão ouvidos. Ou como os seres fisicamente humanos que, morrendo, não querem mais gritar por estarem economizando forças somente para matarem seus últimos fantasmas e descansarem em paz.
Quantas vezes não foi somente o acaso quem se manifestou com ou sem gritaria?
Dando idéias a assassinos de voz e mãos; telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor a macacos; luz e calor a quem nem pediu, mas por fim desabrochou e deu frutos.
Esperto agora estou para as tolices humanas (espero).
Não me iludo mais com bois de cara preta ou com fundamentalistas de bela voz.
A não ser que sinta vontade de trocar minha alma por um copo de vinho ou qualquer quinquilharia dessas de brechó.
Se a liberdade existe, nada me impede...

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Slow motion


Haverá sentido para quem sozinho caminha no nada?

Estranho como toneladas de entulho amontoados – restos de uma antiga civilização – podem fazer pouco e muito sentido no mesmo instante.

Eu, como mero pesquisador, contemplo tudo isso como quem sai de um velório do amigo de um amigo meu.

Termino de colher meus dados e tomo meu transporte acompanhado apenas por meus intrigantes pensamentos: “como seres com tanto potencial se extinguiram antes mesmo de sua estrela se tornar vermelha?”

“Deixaram de descobrir a maior de todas as maravilhas dos universos.”

“Perderam as forças antes mesmo de saberem tudo sobre o que vem depois d...”

Uma música alegre saúda o dia, tentando em vão me fazer esquecer minha passagem pelo universo onírico.

Sendo assim, é hora de acordar.

Tomo minha dose diária de nutrientes compactados e observo a morte que avança silenciosa depois da sombra do parapeito de minha janela.

Ao longe a visão de uma intrigante coluna de 5 metros que mais parece um contador apocalíptico sustentando em seu ápice um visor digital:

Winnipeg, 6:30 a.m., 59°C.