Uma bengala carrega o homem velho a um sofá azul de listras negras abaixo de um relógio de parede cor de areia de deserto.
O avô estava em transe, olhando para o neto pensava em quantas crianças já havia visto crescer, inclusive ele mesmo, um jovem de 83 anos.
– O que é isso vô?! O menino apontava para um cristal semi-transparente que servia como peso de papel.
O velho frisava o objeto e mais recordações vinham de uma vida como jovem garimpeiro.
Não juntara muitas riquezas, mas de nada se arrependia do que havia passado.
– Ah! É uma pedra velha...Vale nada não...
– Ela brilha!... Disse o garoto sem tirar os olhos do cristal.
– Coloca na luz ai vai ver o arco-íris nela..
Essas mesmas palavras haviam sido ditas 60 anos antes a uma morena de olhos negros cintilantes, lábios macios, cheiro de chuva..
– Pega pra você .. Disse o velho, olhando para o relógio.
O menino agradeceu com um sorriso tímido e saiu correndo com um arco-íris nos olhos..
“Engraçado!.. Quando jovem não me importava em brincar com a palavra morte.
Hoje, entendo que as pessoas que se iam eram apenas uma contagem regressiva..
Por isso, nem ouso mais invocá-la.
Uma hora entrará sem bater...”