Eu sou humano.
Essa é a pura verdade que há tempos não quero encarar
Vejo-me fazendo tudo aquilo que os outros fazem:
ouvir música, conversar, pensar repensar, comer, dormir,
acordar...
E me incomodo profundamente
por buscar, interiormente, uma individualidade utópica.
Vejo-me julgando os outros sem saber se tenho realizações somente
minhas ou apenas reflexos das que observo em tudo e em todos.
Será que não existe nada original em mim?
Será por isso que minha barriga parece sempre estar vazia
com um sentimento de culpa perturbador de quem comeu o que não era seu?
Afinal, nem essas palavras que me saem parecem minhas.
E,
por isso, as vomito na folha de papel que encontrei por entre a poeira, os moveis
surrados e as demais quinquilharias espalhadas no chão da casa que há um mês encontrei
e tomei como minha.
Fazendo isso, talvez eu consiga devolver ao menos parte de
tudo aquilo que roubei durante toda a vida.